O nosso querido papa Francisco fez a sua páscoa na manhã da segunda-feira da oitava pascal, 21 abril de 2025, encerrando 12 anos de ministério como bispo da Igreja de Roma, sendo sinal de unidade entre as Igrejas locais em todo o mundo. Um verdadeiro pontífice, ou seja, construtor de pontes entre povos e entre religiões, entre a tradição e as urgências do mundo atual, entre as periferias e o centro, entre o evangelho e o sofrimento humano, sobretudo das vítimas das guerras. Francisco foi o papa da inclusão, do amor e da misericórdia, lutou para transformar marginalidade em pertencimento, intolerância em reconhecimento, preconceito em acolhida, rompendo a barreira da invisibilidade, abrindo portas, jamais fechando.
Francisco exercitou um novo jeito de olhar a realidade, não do centro para a periferia, mas, ao contrário, trazendo consigo uma outra geografia e uma outra experiência de Igreja, ousou ocupar o centro a partir das periferias geográficas e existenciais. Numa Igreja onde o exercício ministerial recai sobretudo sobre os ombros de homens, colocou o desafio de desmasculinizar a Igreja. Juntou num só lugar os gritos dos pobres e os gritos da terra, a ecologia integral. Mexeu em estruturas cristalizadas e, ele próprio as transgrediu para ser fiel, desde o início do seu pontificado até os rituais que sepultaram seu corpo, sempre buscando ser pastor servo, como Jesus.
No âmbito da Liturgia, Francisco nos surpreendeu com uma inédita Carta Apostólica sobre a Formação Litúrgica do Povo de Deus. Desiderio Desideravi (DD), na qual expressou a sua posição irrenunciável na continuidade da Reforma Litúrgica do Concilio Vaticano II que segundo ele “é irreversível” e desafia o povo de Deus a compreender as suas razões e a torná-las viáveis na concretude da ação ritual da comunidade que crê, em vez de questionar as suas escolhas como muitos têm feito, de forma ostensiva e deselegante.
No primeiro artigo desta Edição, Marcio Pimentel, põe em foco, justamente a liturgia depois de Francisco que tratou a reforma litúrgica como releitura do Evangelho, irreversível serviço ao povo de Deus. Em suas palavras, Francisco foi o “Apóstolo do Concílio Vaticano II”. Danilo César chama a atenção para a linguagem narrativa da teologia litúrgica emergente no Concilio Vaticano II. Wanderson de Freitas justifica o uso que a Igreja faz do salmo 68[67] na festa de Pentecostes. Jeronimo Pereira oferece os fundamentos das antífonas de entrada e comunhão na missa em Memória de José de Anchieta. Marlon Ramos, chama a atenção sobre os aspectos históricos, celebrativos e de espiritualidade do Lecionário do Missal Romano. Damásio Medeiros, continuando a falar de Pius Parsch, delineia traços do seu perfil no Movimento litúrgico em Klosterneuburg-Viena e o seu projeto formativo e Daniel Carvalho, nos brinda com a resenha do livro A Formação Litúrgica, de Romano Guardini.
Ainda sobre o Papa Francisco, só o tempo dirá o que custou à sua vida a coragem que teve de reinventar a Igreja em meio a tentativas de retrocessos e a tantas resistências, críticas e pressões de quem o afrontava com palavras e com atitudes, fora e dentro da Igreja. Francisco suportou com firmeza e adotou como tom do seu pontificado a alegria do Evangelho “que enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” [EG, 1], num verdadeiro testemunho pascal que culminou no primeiro dia depois da memória litúrgica da Páscoa de Cristo de 2025. Em Francisco de Roma, como em Jesus, a morte foi transformada em ressurreição para a vida do mundo.
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