Em julho de 1975, acontecia, em Manaus/AM, o IX Congresso Eucarístico Nacional, com o tema “Repartir o pão”. Esse encontro foi precedido e preparado por dois outros eventos: o Ano eucarístico, que teve início no Advento de 1974 e término em julho do ano seguinte, e a Campanha da Fraternidade que, em 1975, teve como tema “Fraternidade é repartir”. Estávamos no pleno fervor da recepção da reforma litúrgica, exercitando a nossa condição de sujeito eclesial e litúrgico, como povo de Deus, depois de séculos de exílio dentro da própria Igreja. Havia muita criatividade vindo à tona em busca de inculturação e um grande anseio de, como propunha o Concílio, viver a liturgia e da liturgia. Nesta ocasião, por iniciativa da CNBB, foi proposta uma Oração eucarística brasileira, a V, a qual, redigida, em 1973, pelo querido e saudoso pe. Jocy Rodrigues, foi fruto de um processo que vai desde essa sua primeira versão, passando pela aprovação, pela publicação inicial em forma de apêndice e por pequenas modificações, até ser inserida entre as Orações eucarísticas chamadas “maiores”, como figura, desde 2023, na terceira edição do Missal Romano. Um grande evento, digno de ser celebrado, sobretudo por ter se tornado a Oração eucarística das nossas comunidades e, desta forma, alcançado o seu propósito.
Nossa Revista dedicou a sua edição de número 9, de maio/ junho de 1975, ao IX Congresso Eucarístico, ressaltando a dimensão pascal da Eucaristia na perspectiva do tema “Repartir o pão”. Sobre a Oração eucarística V, limitou-se a publicar seu texto (cf. n. 32), sem qualquer argumentação. Cinquenta anos depois, temos a oportunidade irrenunciável de chamar atenção para a importância deste evento, considerando o texto, o contexto e, especialmente, a apropriação dessa Oração por parte das comunidades em nosso país. Assim, interrompemos a programação da Revista para dar lugar a esta comemoração, o que fizemos com o intuito de enfatizar a pertinência da obra.
Sem qualquer pretensão de um estudo sistemático completo, nos propomos a apresentar algumas “notas” que exponham o sentido desta Oração eucaristia, partindo dela mesma, da sua história e do seu uso pelas comunidades. Damásio, traz o contexto eclesial que gerou a iniciativa de uma nova oração eucarística para o Brasil. As notas de Jerônimo discorrem sobre o Código linguístico, tratando das “novas” variações textuais, enquanto Marlon destaca o código não verbal. Joaquim Fonseca faz uma nota breve sobre o código musical e nos brinda com a partitura completa da Oração Eucarística V. Danilo pontua a origem e os elementos bíblicos, litúrgicos e patrísticos constantes no texto. Marcio por sua vez, ressalta que a oração eucarística nasce como um ato de obediência ao mandato do Senhor, de realizar o seu memorial.
Embora a Oração eucarística V tenha sido elaborada para o Congresso eucarístico de Manaus, ela não alcançou traduzir o Mistério em linguagem sensível aos povos do território amazônico. Na diocese de São Gabriel da Cachoeira, o bispo dom Edson, sentindo esta lacuna, não hesitava em fazer uma inserção simples, mas bem significativa. “Protegei a vossa Igreja que caminha nas estradas do mundo e ‘nos rios da Amazônia’, rumo ao Céu”. Oxalá, em obediência ao Sínodo da Amazônia, em cooperação com o projeto de um rito para os povos originários, bebendo da poesia, da fauna e da flora, dos sons e dos ritmos deste território, se produza uma Oração eucarística com rosto dos povos deste chão.
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