Revista de Liturgia Edição 312 – Nasceu para Renascermos

Estamos chegando ao final deste ano de 2025 com a boa notícia do cessar-fogo em Gaza, um anúncio de pacificação que ocorre ao final de dois anos de uma luta sangrenta e desigual, um genocídio, o qual, depois da morte de 1.200 israelenses, deixa 67 mil palestinos mortos e 170 mil feridos, em grande parte crianças. Sabemos que esta tão esperada trégua está longe de ser uma vitória final, uma vez que Gaza é hoje um país devastado, não só porque de sua arquitetura quase nada ficou em pé, mas também porque famílias inteiras foram aniquiladas e quem sobreviveu carrega no corpo e no coração as marcas de uma inigualável tristeza pelas perdas terríveis e irreparáveis. Além disso, Gaza continua ameaçada, pois quem escolhe a guerra não busca a paz. Mesmo assim, neste Natal, queremos saudar a paz entrando pelos escombros da Faixa de Gaza, festejando a firmeza e a grandeza espiritual de um povo que não desiste do sonho de um estado livre, ainda que a custo da própria vida.
Frente a essa realidade, estamos diante de uma Palavra de Deus escrita com o sangue de crianças, de jovens, de mães e de pais, pessoas sem armas cuja fome é transformada em estratégia de extinção, enquanto o povo não desiste de voltar para a sua terra arrasada. O desbloqueio da ajuda humanitária é o primeiro passo para recomeçar, um recomeço que precisará ocorrer a partir dos fiapos que sobraram da tragédia. A poetiza e romancista palestina Heba Abu Nada, que morreu sob bombardeio de Israel em outubro de 2023, com 32 anos, no início da guerra, deixou uma mensagem em seu último post: “Se morrermos, saibam que estamos satisfeitos e firmes, e digam ao mundo, em nosso nome, que somos pessoas justas, do lado da verdade”. Ela, que em seu último poema resumiu assim o cenário da guerra: “A noite da cidade é escura, exceto pelo brilho dos mísseis, silenciosa, exceto pelo som dos bombardeios, assustadora, exceto pela promessa tranquilizadora da oração; escura, exceto pela luz dos mártires”.
Também nesse momento é apresentada, de maneira muito oportuna, a Exortação apostólica Dilexi Te (“Eu te amei”), do papa Leão XIV, sobre o amor para com os pobres, documento que ressoa como um sopro de esperança, reafirmando que nos rostos dos pobres encontramos o sofrimento de Cristo. Nesse texto, o pontífice elenca, no que chama “fenômeno multifacetado”, as muitas formas de pobreza, incluindo aquela de “quem não tem direitos, nem lugar, nem liberdade”. Nesse
sentido, que em Gaza perdure a paz e, com a força do amor solidário,
um país novo ressurja das ruínas.
Nossa Revista, nesta edição, traz, por dom Jeronimo, o Anúncio do Natal, um rito litúrgico ligado ao Ofício Divino que apregoa o nascimento de Jesus como um fato situado historicamente. Pe. Danilo, em seu artigo, compartilha o tema de sua tese de doutorado, “o mecanismo mimético da liturgia”, defendida neste ano na FAJE. Por sua vez, Pe. Damásio nos brinda com dois artigos: no primeiro, conclui sua contribuição sobre Pius Parsch, o pioneiro da participação litúrgica; e, no segundo, na continuidade do tema da última edição desta Revista, a respeito do “cuidado da criação na Prece da Igreja”, versa sobre a forma como a Ecologia esteve presente nas Campanhas da Fraternidade ao longo destes 61 anos de sua existência na Igreja do Brasil. Além deles, frei Wanderson escreve sobre as fontes da música litúrgica: os salmos e cânticos bíblicos, enquanto Andrea Grillo faz uma resenha da tese de doutorado de Daniel Carvalho da Silva sobre o Rito amazônico.