1   Para o OUVIR o texto – [Krisnamurti, filósofo indiano]

Eu espero que vocês ouçam, mas não com a memória do que vocês já sabem: você ouve algo e sua mente imediatamente reage com seu conhecimento, suas conclusões, suas opiniões, seus registros anteriores. Ela ouve questionando para um entendimento futuro. (…)

Você só pode ouvir quando a mente está quieta, quando a mente não reage imediatamente, quando há um intervalo entre a sua reação e o que está sendo dito.(…) Se há um intervalo entre o que é dito e a sua própria reação ao que é dito, neste intervalo, quer você o prolongue por um longo período ou por uns poucos segundos, neste intervalo, se você observar, surge aí a claridade. É o intervalo que é o cérebro novo. A reação imediata é o cérebro velho, e as funções do cérebro velho. E é somente o cérebro novo que pode entender, não o cérebro velho.

2  LER o Evangelho, de João 9,1-41

Naquele tempo, 1ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. 2Os discípulos perguntaram a Jesus: “Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?” 3Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele. 4É necessário que nós realizemos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, em que ninguém pode trabalhar. 5Enquanto estou no mudo, eu sou a luz do mundo”. 6Dito isto, Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. 7E disse-lhe: “Vai lavar-te na piscina de Siloé” (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando. 8Os vizinhos e os que costumavam ver o cego – pois ele era mendigo – diziam: “Não é aquele que ficava pedindo esmola?” 9Uns diziam: “Sim, é ele!” Outros afirmavam: “Não é ele, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu mesmo!” 10Então lhe perguntaram: “Como é que se abriram os teus olhos?” 11Ele respondeu: “Aquele homem hamado Jesus fez lama, colocou-a nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Então fui, lavei-me e comecei a ver”. 12Perguntaram-lhe: “Onde está ele?” Respondeu: “Não sei”. 13Levaram então aos fariseus o homem que tinha sido cego. 14Ora, era sábado, o dia em que Jesus tinha feito lama e aberto os olhos do cego. 15Novamente, então, lhe perguntaram os fariseus como tinha recuperado a vista. Respondeu-lhes: “Colocou lama sobre meus olhos, fui lavar-me e agora vejo!” 16Disseram, então, alguns dos fariseus: “Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado”. Mas outros diziam: “Como pode um pecador fazer tais sinais?” 17E havia divergência entre eles. Perguntaram outra vez ao cego: “E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?” Respondeu: “É um profeta.” 18Então, os judeus não acreditaram que ele tinha sido cego e que tinha recuperado a vista. Chamaram os pais dele 19e perguntaram-lhes: “Este é o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que ele agora está enxergando?” 20Os seus pais disseram: “Sabemos que este é nosso filho e que nasceu cego. 21Como agora está enxergando, isso não sabemos. E quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Interrogai-o, ele é maior de idade, ele pode falar por si mesmo”. 22Os seus pais disseram isso, porque tinham medo das autoridades judaicas. De fato, os judeus já tinham combinado expulsar da comunidade quem declarasse que Jesus era o Messias.23 Foi por isso que seus pais disseram: “É maior de idade. Interrogai-o a ele”. 24Então, os judeus chamaram de novo o homem que tinha sido cego. Disseram-lhe: “Dá glória a Deus! Nós sabemos que esse homem é um pecador”. 25Então ele respondeu: “Se ele é pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo”. 26Perguntaram-lhe então: “Que é que ele te fez? Como te abriu os olhos?” 27Respondeu ele: “Eu já vos disse, e não escutastes. Por que quereis ouvir de novo? Por acaso quereis tornar-vos discípulos dele?” 28Então insultaram-no, dizendo: “Tu, sim, és discípulo dele! Nós somos discípulos de Moisés. 29Nós sabemos que Deus falou a Moisés, mas esse, não sabemos de onde é”. 30Respondeu-lhes o homem: “Espantoso! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos! 31Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aquele que é piedoso e que faz a sua vontade. 32Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. 33Se este homem não viesse de Deus, não poderia fazer nada”. 34Os fariseus disseram-lhe:
“Tu nasceste todo em pecado e estás nos ensinando?” E expulsaram-no da comunidade. 35Jesus soube que o tinham expulsado. Encontrando-o, perguntou-lhe: “Acreditas no Filho do Homem?” 36Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu creia nele?” 37Jesus disse: “Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo”. Exclamou ele: 38“Eu creio, Senhor!” E prostrou-se diante de Jesus. 39Então, Jesus disse: “Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem, vejam, e os que veem se tornem cegos”. 40Alguns fariseus, que estavam com ele, ouviram isto e lhe disseram: “Porventura, também nós somos cegos?” 41Respondeu-lhes Jesus: “Se fôsseis cegos, não teríeis culpa; mas como dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece”.

Retomar a leitura, ficar atenta a cada palavra… conversar  sobre o que chamou a atenção no texto.

Aclamação ao Evangelho Jo 8,12
R. Louvor e honra a vós, Senhor Jesus.
V. Pois eu sou a luz do mundo, quem nos diz é o Senhor;
    e vai ter a luz da vida quem se faz meu seguidor

3 LER 1Samuel 16,1b.6-7.10-13a, o salmo responsorial, Sl 23(22) e Efésios 5,8-14. Observar: como esses textos estão combinando com o Evangelho?

1Samuel 16,1b.6-7.10-13a

Naqueles dias, o Senhor disse a Samuel:1b Enche o chifre de óleo e vem para que eu te envie à casa de Jessé de Belém, pois escolhi um rei para mim entre os seus filhos. 6Assim que chegou, Samuel viu a Eliab e disse consigo “Certamente é este o ungido do Senhor!” 7Mas o Senhor disse-lhe: Não olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura, porque eu o rejeitei. Não julgo segundo os critérios do homem:  o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração”. 10 Jessé fez vir seus sete filhos à presença de Samuel, mas Samuel disse: “O Senhor não  scolheu a nenhum deles”. 11 E acrescentou: “Estão aqui todos os teus filhos?” Jessé respondeu: Resta ainda o mais novo que está apascentando as ovelhas”. E Samuel ordenou a Jessé: “Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa enquanto ele não chegar”. 12Jessé mandou buscá-lo. Era Davi, ruivo, de belos olhos e de formosa aparência. E o Senhor disse: “Levanta-te, unge-o: é este!” 13bSamuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi.

Salmo responsorial Sl 23(22)

O Senhor é o pastor que me conduz;
    não me falta coisa alguma.

1O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.

2Pelos prados e campinas verdejantes
ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha,

3ae restaura as minhas forças R.

3bEle me guia no caminho mais seguro,
pela honra do seu nome.

4Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso,
nenhum mal eu temerei.
Estais comigo com bastão e com cajado,
eles me dão a segurança! R.

5Preparais à minha frente uma mesa,
bem à vista do inimigo;
com óleo vós ungis minha cabeça,
e o meu cálice transborda. R.

6Felicidade e todo bem hão de seguir-me,
por toda a minha vida;
e, na casa do Senhor, habitarei*
pelos tempos infinitos. R.

Carta de São Paulo aos Efésios 5,8-14

Irmãos: 8Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. 9E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade. 10Discerni o que agrada ao Senhor. 11Não vos associeis às obras das trevas, que não levam a nada; antes, desmascarai-as. 12O que essa gente faz em segredo, tem vergonha até de dizê-lo. 13Mas tudo que é condenável torna-se manifesto pela luz; e tudo o que é manifesto é luz. 14É por isso que se diz: “Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá”.

Permanecer na palavra que fala ao coração…

4 LER os textos eucológicos: como a leitura desses textos pode ser enriquecida com os elementos verbais (aclamação ao evangelho, orações, cantos) e não verbais, da celebração deste 4º domingo da Quaresma do ano A?

Oração do dia

Ó Pai, fonte de luz e de vida, por teu filho Jesus Cristo

reconciliaste a humanidade dividida.

Livra-nos de toda a sombra de tristeza

para que caminhemos cheios de alegria

para as festas pascais que se aproximam.

Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Prefácio:

Na verdade…

Pelo mistério da encarnação, Jesus conduziu à luz da fé a humanidade que caminhava nas trevas. E elevou à dignidade de filhos e filhas os escravos do pecado, fazendo-os renascer das águas do batismo.

Por esta razão…

5  Para ajudar a aprofundar os textos

A tensão em que as comunidades do quarto Evangelho viviam junto às autoridades religiosas judaicas pode ter influenciado a construção desta narrativa sobre o encontro de Jesus com o cego de nascença.

Jesus viu passar um cego de nascença. Os discípulos perguntaram: quem pecou, ele ou seus pais? “Nem ele, nem seus pais”. O olhar dos discípulos opõe-se ao olhar solidário de Jesus. Enquanto os discípulos têm sobre o cego um olhar culpabilizante, Jesus, vê na sua limitação uma oportunidade de manifestar a ação de Deus.  O gesto de Jesus de “…fazer lama com a saliva e ungir…” (cf. Jo 9,7), recorda o gesto com que Deus criou Adão (cf. Gen 2,7). O cego, ungido por Jesus, é mergulhando nas águas do enviado [Siloé] e recupera a visão.

Desde que o homem cego foi curado de sua cegueira, tudo começa a ficar complicado em sua vida. Todas as pessoas com quem se relacionou, agora tem dificuldade de reconhecer “aquele que pedia esmola”. Mas  aquele que era apenas objeto de palavras e de juízos dos outros agora é sujeito, capaz de assumir a sua identidade: “Sou eu mesmo” (Jo 9,9). E perguntaram: “como é que se abriram os teus olhos?” E o cego faz memória da ação de Jesus sobre ele. Perguntaram: “onde está ele”. Mas o cego não sabe onde Jesus está. 

Então levaram até os fariseus “o homem que tinha sido cego”. E estes lhe perguntaram: “como é que se abriram os teus olhos?” o cego respondeu: “ Aquele homem chamado Jesus fez lama, ungiu-me … lavei-me e estou vendo“ [v. 11]. Como era sábado o dia em que jesus fez lama e ungiu o cego, alguns fariseus concluíram que Jesus não vem de Deus porque não respeita o sábado. Outros, porém, discordavam. Perguntaram ao cego: E você o que acha daquele que te abriu os olhos? “É um profeta” [v. 17].

Então os judeus não acreditaram que ele tinha sido cego e foram perguntar aos pais. “sabemos que era cego e agora vê, não sabemos como e nem sabemos quem lhe abriu os olhos. Pergunte a ele”.

Os fariseus insistem no interrogatório que leva o cego a declarar: “se este homem não viesse de Deus não poderia fazer nada! “portanto, o homem que recuperou a visão reconhece em Jesus alguém que vem de Deus.., E foi expulso da comunidade. [Este era o medo dos pais, serem expulsos da comunidade].

Jesus sabendo que tinha sido expulso, encontrando-o perguntou-lhe: “Acreditas no Filho do homem?” Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu creia nele?” E Jesus: “Tu o estás vendo; é aquele que fala contigo”. Finalmente ele dá o último passo  em direção à fé: ”Eu creio, Senhor!” E prostrou-se diante de Jesus.

A cura do cego é uma imagem da iluminação batismal que é progressiva: primeiro, o cego chama Jesus de homem; depois, de profeta; finalmente, de Senhor. O itinerário percorrido pelo cego deixa transparecer o processo iniciático da comunidade, em seu progressivo caminho de adesão a Jesus. Quem é o cego e quem vê? Esta é a pergunta. Não basta ter olhos para VER. Vê quem sabe estar cego e abre-se a ação de cura e de luz que Cristo oferece. “se fôsseis cegos, não estaríeis em pecado; mas, como dizeis que vedes, o vosso pecado permanece.” (v. 41).

A quaresma, coincide com o terceiro tempo do itinerário de iniciação, tempo de preparação imediata dos catecúmenos que foram eleitos no primeiro domingo, e serão batizados na Páscoa. Neste terceiro domingo se faz o 2º escrutínio, um rito de purificação e força, que procura orientar e estimular os eleitos para que se unam mais estreitamente a Cristo e reavivem seu desejo de amar a Deus [Cf. RICA n. 154]. Na alegria de acolher novos discípulos e discípulas, também a comunidade dos fiéis retoma o seu itinerário de iluminação para renovar na noite da Páscoa a sua fé batismal.

No centro deste domingo da Quaresma está o tema da iluminação que coincide com o itinerário de iniciação cristã que culmina no batismo. A iniciação cristã começa com um encontro com Jesus, pelo qual se chega a uma adesão de fé nele. Como na experiência do cego, há dificuldades que a pessoa deve enfrentar até proferir a fé de modo pessoal e profundo. A  iniciação é um caminho progressivo que engaja a pessoa no seu todo. O corpo se torna espiritual ao ser tocado pelo iluminado. A recriação não tem nada de mágico, ao contrário requer um trabalho da pessoa consigo mesma, de se reconhecer na sua verdade, seja ela qual for até chegar a dizer: “Sou eu mesma” (cf. Jo 9,9) para proclamar com liberdade e convicção “Eu creio!”. O processo de iluminação coincide com o processo de humanização.

O batismo é dom gratuito da parte de Deus, não depende da nossa aparência [1a leitura].  Mas não acontece sem a nossa efetiva participação, que inclui esta peregrinação interior até mergulhar na água e ser ungido no corpo pela unção do Espírito. Tampouco o batismo é um ponto de chegada; é, antes, início de um caminho, que deve evoluir, mediante a participação nos mistérios que despertam a memória do coração. O ato de celebrar a cada domingo nos coloca na dinâmica dessa progressiva passagem das trevas para a luz, que nos coloca de novo no caminho da nossa iluminação batismal, para dar frutos de bondade, justiça e verdade (2ª leitura).

Roteiro feito por: Penha Carpanedo, pddm.

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