Frei José Ariovaldo da Silva, OFM*
Teólogo liturgista

Na liturgia, sobretudo na missa, Cristo está presente de várias maneiras. Uma delas, é quando se lêem as Escrituras. Quando se fazem as leituras, se canta o salmo e se proclama o Evangelho é Cristo mesmo que se comunica com seu povo reunido. Não é um livro e nem são palavras que se lêem, mas é a Palavra viva (Cristo mesmo) que se anuncia como Palavra de vida para todos. É o que nos ensina a Igreja: Veja a Constituição sobre a Sagrada Liturgia n. 7 e n. 33, do concílio Vaticano II, em 1963.
Então eu pergunto: Quando você vai à missa ou mesmo numa celebração dominical da Palavra, dá para sentir de fato que é Deus que está falando com seu povo, quando se leem as Escrituras? Ou tem alguma coisa (algum “ruído”) que atrapalha?… E olha! Você tem todo direito (e até obrigação!) de sentir Deus falando com você (veja o n. 14 da citada Constituição)! Você está conseguindo desfrutar deste sagrado direito?
Pois bem, para que você possa, na missa, desfrutar do sagrado direito de sentir Cristo falando com você e com todo o seu povo, seguem aqui algumas recomendações para as equipes de liturgia, para os leitores, para os salmistas e para o padre:
– Quem vai ler deve preparar-se espiritualmente para a leitura. Ler antes. Meditar. Orar em cima da Palavra. Deixar ela tomar conta de todo o seu ser (corpo, mente, coração, emoções). O leitor e a leitora devem ser os primeiros ouvintes da Palavra. Preparar-se também tecnicamente, através de ensaios, cursos e avaliações para aperfeiçoamento: é muito importante.
– Atenção equipes de liturgia! Evitar pegar pessoas na última hora para ler, em cima da hora, de improviso. Inclusive se recomenda que a leitura seja entregue pela equipe com bastante antecedência, para ser preparada com calma, até mesmo durante toda a semana.
– Recomenda-se que a proclamação da Palavra seja feita de um lugar apropriado, só para ela: de uma estante especial, grande, bonita, distinta. Isso para enfatizar o “lugar” de onde Deus fala para o seu povo. Por isso, para dar distinção à Palavra, não usar este espaço para outras coisas. Comentários e avisos sejam feitos em outro lugar.
– A Igreja orienta que as leituras sejam feitas diretamente do livro de leituras (chamado de lecionário). Isso por causa de dignidade da Palavra de Deus. O folheto é um descartável. Hoje se usa e amanhã é jogado fora, vai para o lixo. A Palavra não é descartável. É eterna. É Cristo. Por isso, por ser eterna, convém que ela seja proclamada diretamente do livro (não-descartável), e não do folheto. A dignidade da Palavra exige que se evite o “ruído” do uso de descartáveis para a sua proclamação.
– Recomenda-se também que, ao ouvir a Palavra (seja nas leituras e no canto do salmo, como, sobretudo na proclamação do Evangelho), o povo não fique acompanhando pelo folheto. A Palavra é para ser “ouvida”! Deus fala e você ouve… Quando alguém fala com você (ainda mais quando é Deus que fala), você fica de olho grudado no jornal? Evidente que não! É questão até de educação. Seja bem educado(a)! Quando Deus fala para você, desgrude o olho do jornal. Apenas olhe para frente (para o leitor ou leitora) e escute, “ouça” o que o Senhor diz! O ideal seria que os folhetos nem trouxessem os textos das leituras, do salmo e do evangelho. Exatamente para ajudar o povo a exercer o seu sagrado direito de realmente sentir Deus falando.
– Quem proclama a Palavra, ao fazer as leituras, faça-o com voz clara (para todos ouvirem), devagar, pausadamente, respeitando as pontuações e, sobretudo, ler com espiritualidade, vivenciando o que lê, colocando emoção no que lê. Evite-se o “ruído” da leitura rápida demais, em voz baixa, sem pontuação e, sobretudo, sem espiritualidade.
– A dignidade da Palavra exige também, da parte de quem a lê, uma postura digna. O leitor (ou a leitora) fique apoiado(a) sobre os dois pés, exatamente para expressar a firmeza desta rocha que é a Palavra. Por isso, evite-se o “ruído” de permanecer apoiado(a) sobre um pé só (com o outro pé atrás ou para frente). E mais: ao ler, olhar com carinho para os ouvintes, como Deus olha para o seu povo. No olhar de quem lê, os ouvintes querem sentir o olhar de Deus. Evite-se, portanto, o “ruído” de ficar com o olhar preso só no livro. E mais: Em muitas comunidades no Brasil, quem vai fazer a leitura coloca uma veste própria para o exercício deste ministério.
– Não ler os títulos orientativos, tais como: “Primeira leitura”, “Segunda leitura”, “Salmo responsorial”, “Evangelho”. Isso não é Palavra de Deus. São apenas títulos orientativos para não se perder. Quando estes títulos são lidos, quebra-se o ritmo e a harmonia da escuta da Palavra. Evite-se também este “ruído”.
– Nunca se diga no nome da pessoa que vai fazer a leitura. Dizer o nome da pessoa, no caso, significa “roubar a cena” da Palavra. Toda a atenção tem que estar centrada na Palavra. E dizer o nome de quem vai ler é um “ruído” a mais que distrai.
– Quando termina a leitura, diga-se “Palavra do Senhor” ou “Palavra da Salvação” (no caso do Evangelho), no singular. Por quê? Porque é Cristo-Palavra que foi proclamado. Por isso, evite-se o ruído de dizer “Palavras do Senhor” ou “Palavras da Salvação” (no plural). Pois não são “palavras” que são lidas, mas é “a Palavra” que é proclamada. Outra coisa: faça-se uma pequena pausa antes de dizer “Palavra do Senhor” ou “Palavra da Salvação”. Isso ajuda a vivenciar melhor o que foi lido e ouvido.
São algumas recomendações úteis, para que o povo possa viver mais plenamente o seu sagrado direito (e obrigação) de sentir Deus falando, quando se leem as Escrituras na missa. Queira Deus que isso aconteça em nossas comunidades. Afinal, é o grande sonho do concílio Vaticano II, há quase 40 anos já passados.

*Frei José Ariovaldo da Silva, OFM é escritor da Revista de Liturgia.

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