Toda celebração cristã tem uma dimensão de espera do Reino. A cada dia suplicamos na oração do Senhor: “Venha o teu reino!” E no coração da prece eucarística aclamamos: “Vem, Senhor Jesus”. Entretanto, o tempo do advento nos é dado a cada ano, como SACRAMENTO DA ESPERA. Os textos bíblicos e litúrgicos do ciclo do natal estão impregnados de imagens que falam das Promessas de Deus e da ansiosa expectativa do povo; da manifestação da sua VINDA no Verbo que se fez carne e da humilde adoração e reverente cooperação das Testemunhas que reconheceram os seus sinais.
E nós, neste tempo de agora, auxiliados pela reserva simbólica ofertada pela liturgia de cada dia, comungamos desta ansiosa esperança, unindo-nos aos anseios da própria criação, também ela e mais do que nunca, em dores de parto à espera de redenção (Rm 8). Somos guiados/as pela íntima certeza de que do tronco cortado sairá um broto; frágil, mas coroado pelo Espírito capaz de recriar o mundo a partir do seu próprio fracasso em busca da harmonia primordial (Is 11,1-10). É esta certeza-esperança que nos move a cantar esperando o natal: “Do tronco da vida, mesmo ferida, nasce uma flor rindo da dor” (Adolfo Temme).
E assim preparamos com íntimo desejo ‘a festa das nossas núpcias’ (Leão Magno) abraçando nossas fragilidades já assumidas pelo Verbo manifestado em nossa carne e ainda por se manifestar plenamente. Somos sujeitos de desejo, inacabados, sempre “em devir”, nós e a realidade social e cósmica da qual fazemos parte…
Somos sujeitos de desejo, inacabados, sempre “em devir”, nós e a realidade social e cósmica da qual fazemos parte… A nossa espera será proporcional ao nosso DESEJO. Santo Agostinho já dizia: “o teu desejo é a tua oração”; Gandhi o confirma: “tornamo-nos aquilo que ansiamos, dai a necessidade de oração” ; e Teilhard Chardin: “O Senhor Jesus virá na medida em que saibamos esperá-lo ardentemente; há de ser um acúmulo de desejos que fará apressar o seu retorno”. A oração do primeiro domingo pede “o ardente desejo do reino para acorrer com nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem”. E pede que sejamos vigilantes:
- A nós mesmos/as, para não confundir a sede mais profunda do coração (sede de amar e de ser amado/a) com o desejo de posse (de pessoas e de coisas); para dar nome aos nosso desejos desorientados…
- Aos sinais da vinda do nos acontecimentos
- No cuidado da ‘casa’, apressando “com as boas obras” (amor concreto e gratuito) a chegada do reino;
prolongando na oração pessoal a escuta da Palavra (oração do coração), abrindo-nos à mediação do Verbo – “é ele que ama em nós” (Jean Yves Leloup).
Preparamos o natal celebrando o ADVENTO, o mistério da VINDA do nosso Salvador Jesus Cristo que “veio a primeira vez revestido de nossa fragilidade”, “virá no fim revestido de glória” (cf. prefácio I) e SEMPRE VEM, no tempo intermediário do nosso PRESENTE (homilia de São Bernardo, LH, I, p. 137 ). ELE VEM independente da nossa espera, mas justamente porque ele Vem, nos abrimos à sua presença no meio de nós: “agora e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização do seu Reino”. (Prefácio IA).
Atentos/as às palavras da liturgia e aos acontecimentos do cotidiano, nos colocamos na condição de comunidade-Esposa, vigilante à espera do Messias. Ele virá tão certo como a aurora. Então cantamos: “das alturas orvalhem os céus, e as nuvens que chovam justiça, que a terra se abra ao amor, e germine o Deus salvador”. O Verbo que nasceu de Maria, germinará da terra QUE SOMOS NÓS, como nos ensina a Eco-teologia a partir da nova cosmologia (somos parte indissociável do cosmos).
O Verbo é o fruto da mútua cooperação, da admirável troca, entre o céu e a terra, entre o Espírito e a matéria. Por isso nos unimos a toda a humanidade e a toda a criação, em oração suplicante: VEM!! É o grito do próprio ESPÍRITO que se une à Esposa para dizer: “Maranatá, VEM, Senhor Jesus!” (1Cor 16,22 e Ap 22,20).
Tendo esta tela de fundo, entremos com nossa atenção vigilante, na “alegre e piedosa espera” deste sagrado tempo da nossa esperança.
Ir. Penha Carpanedo, pddm